Como fazer quando não sei o quê?



Hoje o dia acordou cinzento. Em mim. Acordou cinzento em mim. Não lá fora. Na testa. Dentro da testa.
Escrevo porque não sei o que mais possa fazer. "Esta ânsia de me descer é que me entardece. E contudo como me sinto orgulhoso ao varar-me." Mário de Sá-Carneiro. 
Contudo, quando os dedos me chamam, faço, faço e escrevo, escrevo e faço e toco. Toco umas cordas de violino. 
Assim estava Jaime. A persona que criei no hospital, em 2007. 
O homem que só sabia pensar no que fazia em vez de usufruir e, quando pensava depois de fazer, tentava perceber o que tinha feito e o porquê.
Mas, o que eu sei que sou, não existe. Não sei ser sem me mexer nem sem estar e no entanto sou, estando no mesmo sítio mas em vários nesse modo e aí mexo-me. Mexo-me tanto. Mexo-me muito.
Se eu não me mexer por mim, quem mexerá?
E assim vou indo quando os limites são fora do meu controle e não me impelem a nada se não esperar.
Por não sei como fazer seja o que for quando não sei o quê.
Acho que vou parodiar a Passagem das Horas,
do Pessoa.


O que muda, o que se transforma e o que se cumpre!

 A maior mudança que acontece e é incontornável é a nossa morte. E dessa, temos a sensação de ter medo. Mas do que temos mais medo é da vida...