Erótica


Estou a acabar de estar em Genéve, na Suíça. Custa-me dizer "Genebra". Genebra é, para mim, uma bebida com sabor a Idade Média, desde que eu era adolescente e estudava História no Liceu.
Desde que cheguei a Genève, algo erógeno desceu em mim. Uma espécie de estímulo invisível que de repente se apodera da minha zona baixo ventre. Do pénis e dos testículos. Mas também das coxas. Sinto-me entre o desejo e a vontade de satisfazer o desejo. Mas não passa disso. Reparo em nádegas bem desenhadas que quase rompem as calças de flanela, tal é a volúpia com que se manifestam. Levo a minha mão direita à zona da braguilha das calças e penso que podia rebentar de desejo, Ter uma explosão branca por dentro das calças. Penso que poderia facilmente deixar-me conduzir num encontro fortuito, numa qualquer parte de uma qualquer parede que irrompesse por um prédio, e ser alvo de um êxtase rápido, fortuito, inconsequente e, por isso mesmo, de um prazer escalado. Mas rapidamente respiro fundo. Estou a chegar ao hotel. O frio lembra-me que a temperatura da imaginação sobe mas a frieza da incapacidade de estimular alguém, estando eu sóbrio, é mais real e chama-me para os pingos de chuva que caem. E assim vão passando os anos numa Erótica que me sucumbe e me vence, por não se conseguir realizar.
Amanhã passas, Suíça, e Lisboa regressará ao comando de um outono perpétuo, no meu baixo ventre. Quando sóbrio.
Genéve, 3 de novembro de 2023  

 

Sem comentários:

Enviar um comentário

O que muda, o que se transforma e o que se cumpre!

 A maior mudança que acontece e é incontornável é a nossa morte. E dessa, temos a sensação de ter medo. Mas do que temos mais medo é da vida...